A greve está relacionada aos subsídios que os desembargadores vêm acumulando ao longo dos anos. Hoje, o conselho vai apreciar a minuta de resolução que fixa o teto salarial em R$ 24.500 e acaba com todos os adicionais por tempo de serviço.
É por isso que os desembargadores protestam. Dizem que os adicionais são “direitos adquiridos” e que os Estados têm autonomia para legislar sobre questões desse tipo. “Ao interferir, o CNJ não respeita o pacto federativo”, disse o presidente do TJ, desembargador Hugo Bengtsson Jr..
A AMB discorda da greve. “Consideramos um equívoco. Não vejo possibilidade de esse movimento ser compreendido ou apoiado pela população. Acho que é um movimento equivocado e que não vai trazer nenhum ganho à causa que tem sido defendida pelo tribunal de Minas”, afirmou o presidente do órgão, Rodrigo Collaço.
Segundo o presidente da seção da OAB em Minas, Raimundo Cândido, o TJ decidiu pela paralisação “em um momento de emoção, e não de razão”. “Nós entendemos que isso pode ser um péssimo exemplo para o jurisdicionado, aqueles que procuram a Justiça. Podem começar a querer também questionar as decisões da Justiça”, afirmou Cândido.
Para ele, os desembargadores podem recorrer ao STF (Supremo Tribunal Federal) se não concordarem com a decisão do CNJ.
As duas entidades foram atacadas pelo documento do TJ de Minas, que as acusou de “fazerem coro à campanha insidiosa contra os Judiciários estaduais”.
A AMB informou que “aceita a crítica dos associados, mas não concorda com ela”. A OAB afirmou que a crítica é “injustificada” e que a entidade usa a “independência em prol da cidadania”.
“Nós lamentamos essa metralhadora giratória do Tribunal de Justiça, que está atacando o governo Lula, o Congresso Nacional, o presidente do Supremo. Eles estão atacando instituições consolidadas. Isso é um péssimo exemplo para a comunidade. Nós não podemos estimular essa atitude”, disse Cândido.
A AMB apoiou o fim do nepotismo e apóia o teto definido pelo STF -que vai ainda decidir se a irredutibilidade salarial é constitucional. Segundo Collaço, o fim dos adicionais por tempo de serviço serão ruins para a carreira da magistratura, “mas isso não depende da vontade da AMB ou de quem quer que seja”.
“O STF acabou com os adicionais. Não cabe nem apoiar, tem que cumprir”, afirmou Collaço. O presidente da AMB acha, no entanto, que a resolução do CNJ deveria ser melhor formulada e amplamente debatida para evitar os recursos na Justiça.
Ontem, os desembargadores mantiveram fechados seus gabinetes e não foram ao tribunal, segundo informou o presidente do órgão, que apareceu apenas para falar com a imprensa.
Os servidores trabalharam normalmente, inclusive atendendo ao público. E, como segunda-feira não é dia de julgamentos, a greve afetou apenas trabalhos como análise e encaminhamento de processos.
Fonte: Jornal Folha de São Paulo
Autor: Paulo Peixoto