Carlos Calaes
REPÓRTER
Ontem, deveria ser um dia de alegria para a desempregada Liomar Nunes Coimbra, 34 anos, que nunca teve Carteira de Trabalho, CPF ou Título de Eleitor. Depois de esperar sete anos, ela acreditava que, finalmente, conseguiria tirar a Carteira de Identidade. À tarde, ela se arrumou e ficou à espera da equipe do HOJE EM DIA, que a levaria até ao Instituto de Identificação. No entanto, a burocracia voltou a impedir seu sonho. Como na Certidão de Nascimento consta seu sexo como sendo «masculino», mais uma vez não conseguiu a tão esperada cidadania.
Há pouco mais de quatro anos, Liomar, que é mãe de uma adolescente de 16 anos, que não mora com ela, perdeu a Carteira de Identidade e a Certidão de Nascimento original em sua cidade natal, Padre Paraíso, a 546 quilômetros de Belo Horizonte. De origem humilde, ela não fez boletim de ocorrência, porque acreditava que os documentos tinham sumido dentro de sua casa. Dias depois, como não os havia encontrado, foi ao cartório da cidade tirar a segunda via da certidão e descobriu que estava registrada como sendo do sexo «masculino». Além disso, na data de nascimento constava «27 de `agostro` de 1972». Reclamou, mas não adiantou.
Liomar veio para Belo Horizonte e, desde então, por causa do erro, não pode tirar uma nova Carteira de Identidade. Com dificuldade para andar, por causa de um acidente que sofreu quando era criança, também não consegue acesso a serviços gratuitos para deficientes físicos nem passe livre em ônibus, na capital.
Liomar precisará se submeter a uma cirurgia na perna esquerda, mas, abandonada pela família, vive de favor em Belo Horizonte, na casa de Maria Pereira da Silva e de seu marido, Geraldo, que se comoveram com o caso. Sem estudos, ela resume seu maior sonho: «Se conseguisse pelo menos minha Carteira de Identidade, seria a melhor coisa do mundo», revela.
Ontem, ela foi levada ao Instituto de Identificação, onde a diretora delegada Nilma Reis confirmou o problema. Mesmo sensibilizada, ela informou que a situação só será regularizada mediante uma autorização judicial que permita a correção na Certidão de Nascimento. Cabisbaixa e sem segurar as lágrimas por causa da nova decepção, Liomar deixou o local sem o documento de identidade.
Na Defensoria Pública, a desempregada conseguiu um atendimento preliminar. Para ingressar com uma ação judicial – a tramitação pode levar meses – que permita a mudança da palavra «masculino» para «feminino», Liomar terá de apresentar cópias das certidões de Nascimento dela e da filha e atestado de um ginecologista certificando que é mulher.
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Fonte: Jornal Hoje em Dia