Clipping – Nasceu em Santa Cruz? Vai longe… – Jornal O Globo

Fechamento de cartório e de agência do Ministério do Trabalho no bairro prejudica quem precisa de re­gistros

Já virou piada entre os moradores do bairro: dizem que, em Santa Cruz, ninguém mais pode nascer, ca­sar, trabalhar ou morrer. Mas o fundo deverdade des-sa brincadeira tem provocado mais transtornos do que risos. Há alguns meses, Santa Cruz deixou de ter cartórioderegistro civileposto para retirada decar­teira de trabalho. Agora, quem precisa desses ser­viços precisa se deslocar mais de 15 quilômetros, até Campo Grande.

A extinção do cartório aconteceu no ano passado. Funcionava, no número 347 da Rua Senador Camará, uma sucursal da 13ª Circunscrição de Registro Civil e Tabelionato. Ali, a população de Guaratiba a Inhoaí­ba estava acostumada a reconhecer firmas, tirar cer­tidões de nascimento e casamento e pegar atestados de óbito. Só que, em 6 de maio de 2009, um pro­vimento da Corregedoria Geral de Justiça do estado determinou que todas as sucursais de cartórios fos­sem fechadas, já que a Constituição Federal não permite sua existência. Assim, todo o acervo foi transferido para a matriz da circunscrição, quefica na Rua Cândido Magalhães, em Campo Grande.

 -Para registrar nosso terceiro filho, meu marido e eu tivemos de ir a Campo Grande com o bebê no colo e esperar por três horas em uma fila com mais de cem pessoas. Foi um caos até para estacionar – reclama Marilene de Oliveira, cujas duas outras filhas foram registradas sem problemas na antiga sucursal, a pou­cos metros de onde nasceram, o Hospital Pedro II.

Com o fim da sucursal, a matriz em Campo Grande está tendo que absorver toda sua clientela. Segundo dados do Instituto Pereira Passos ( IPP), nascem por ano cerca de nove mil bebês e morrem quase três mil pessoas na região de Santa Cruz. O volume pode au­mentar o lavramento de certidões de nascimento e óbito na matriz em torno de 50%.

Segundo o chefe de gabinete da Corregedoria Geral de Justiça, Geraldo Aymoré Júnior, um outro pro­vimento do órgão, emitido em outubro de 2009, au­torizou a abertura de postos de atendimento de cartórios, mas a 13aCircunscrição de Registro Civil e Tabelionato não quis instalar um no endereço de sua antigasucursalsob aalegação deo imóvelestava sen­do ocupado.

Agora, os moradores de Santa Cruz esperam pela criação de um posto de atendimento no Hospital Pe­dro II, onde poderão ser lavrados registros de nas­cimento e óbito. De acordo com Aymoré Júnior, devido à urgência da situação, um ato administrativo permitirá sua instalação em breve.

Porém, um outro problema persiste. Em agosto de 2009, o que parou de funcionar em Santa Cruz foi a agência para retirada de carteira de trabalho e se­gurodesemprego que ficava na 19ª Região Ad­ministrativa ( R. A. ) Segundo a superintendência do Ministério do Trabalho no Rio, o serviço acabou por­que os funcionários se aposentaram ou foram demitidos. Assim, aúnica agência daZona Oestefica em Campo Grande.

-Fui tirar meu seguro-desemprego em Santa Cruz e acabei sendo pego de surpresa com o fechamento do posto. Tive de ir a Campo Grande, mas o atendimento demorou muito. Só consegui o benefício no dia seguinte -diz o líder comunitário Gerssi Pinheiro da Silva.

De acordo com a superintendência, basta que a administração regional da prefeitura solicite a reabertura da agência para que ela volte a funcionar. Mas Milton Hauat Filho, coordenador da 19 aR. A. , Silva. diz que seus pedidos não foram atendidos:- O re­torno da agência é o que nós mais queremos. Espaço não nos falta.

 

Fonte: Jornal O Globo