Sem papel passado

Número de casamento entre idosos no DF está caindo.

Da Redação

Diferentemente do que acontece em grandes capitais, como São Paulo, em que o número de registro de casamentos na terceira idade dobrou nos últimos 10 anos, no Distrito Federal, cada vez menos idosos oficializam uma união. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em todo o País, em 2005, 10.357 pessoas acima de 55 anos firmaram compromisso no cartório, contra 14.879 em 2008. Em Brasília, o número de registros em 2005 foi de apenas 68, caindo para 58 em 2008.

Para marisete Peralta, coordenadora do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre a Atividade Física dos Idosos (Gepafi), organização da Universidade de Brasília (UnB), esses dados não significam que os idosos da capital não estejam se relacionando. "Eles não estão se casando, mas estão namorando", conta a coordenadora. "Atendemos entre 200 e 300 idosos aqui no Gepafi, e muitos deles namoram. A maioria conheceu o parceiro aqui mesmo, dentro do Grupo".

Uma das explicações que a coordenadora aponta para os fatos que esses dados revelam é a estabilidade econômica que se atinge na terceira idade. Para ela, as implicações econômicas que regem os casamentos são o principal motivo para a falta da oficialização. "Pelo menos aqui, no Plano Piloto, a maioria da terceira idade é composta por pessoas de classe média alta. Muitos são viúvos ou divorciados. Não desejam partilhar bens, e nem conviver novamente sob o mesmo teto".

IMPASSE

Outro fator que ela aponta como um impasse para a oficialização é a família. "Tenho casos aqui de idosos que namoravam há anos. Quando decidiram se casar, a família inteira foi contra. Uns se casaram e a família acabou aceitando depois, e outros desistiram e continuam namorando".

Já a aposentada Vera Lúcia de Almeida, de 68 anos, conta que nunca foi casada e nem deseja ser. "Adoro a minha liberdade. Me aposentei, sou independente financeiramente, não preciso de ninguém nesse sentido. Aproveito para viajar, é ótimo! Me sinto a pessoa mais livre do mundo." conta ela, que também não possui filhos. "Já estive noiva, mas pensei melhor e desisti de tudo. Casamentos trazem muitos problemas, e hoje em dia é muito difícil achar uma pessoa bacana para que a convivência seja boa" alerta.

Mas quando questionada sobre os benefícios de uma relação a dois, a aposentada confessa que às vezes se sente sozinha. "De vez em quando sinto falta de um companheiro para ir ao cinema comigo, e até mesmo para viajar junto", admite. "Às vezes bate a solidão, mas hoje em dia todo mundo se sente só de vez em quando. E passa rápido. Talvez, se aparecesse uma pessoa bacana, eu até namoraria. Mas dentro da minha casa, jamais", conclui. Para ela, um dos motivos para que, em Brasília, os idosos se casem menos, é a falta de opções de lazer, de um local onde eles possam se encontrar. "Não existe muitos ambientes focados na pessoa idosa. Eu me sinto deslocada em bares no meio da juventude. Se não existe lugares para os idosos se encontrarem, não há casamentos", reclama.

SAIBA +

A época em que uma pessoa é considerada na fase da terceira idade varia conforme a cultura e desenvolvimento da sociedade em que vive.

Por exemplo, idade a partir dos 60 anos. demonstram que entre os anos de 1995 e 1999, no Brasil, o número de pessoas com mais de 60 anos cresceu em 14,5%.

 

Fonte: Jornal de Brasília