Jesus Aílton Nunes Machado é neto de Maria e Jesus, e sobrinho de José. Soldado da Brigada Militar também se dedica a trabalho voluntário.
Ele vive em Santa Cruz do Sul, tem 33 anos e um nome que inspira milhões de católicos em todo o mundo. Com humildade e simplicidade, o policial militar Jesus Aílton Nunes Machado tenta trazer diariamente para sua vida um pouco das lições que o homônimo santo deixou. Neto de Maria e Jesus, sobrinho de José e pai de dois meninos chamados Arcanjo, o Jesus do Rio Grande do Sul virou morador conhecido no município de cerca de 119 mil habitantes que fica a 155 km de Porto Alegre.
No país mais católico do mundo, a fé faz dos nomes bíblicos escolhas comuns para os pais na hora do registro civil. No caso de Jesus Machado, a homenagem foi ao avô, morto três anos antes de seu nascimento. Décadas antes, o Jesus avô casou-se com Maria Cândida, que vive até hoje em Bagé, na Região da Campanha do Rio Grande do Sul. Juntos tiveram 11 filhos, entre eles a Vera Maria, que se casou com Aílton e teve três filhos, um deles Jesus. Apenas o filho do meio foi batizado com nome religioso. Motivo que orgulha a todos.
“É mais pela confiança que as pessoas depositam na gente, o que o nome representa para os outros. O nome ajuda, mas é claro que as minhas ações são importantes. O nome tem uma energia positiva”, contou ao G1 Jesus, em sua casa em Santa Cruz do Sul.
Jesus Machado ajudou a levar adiante a tradição da família. O filho mais velho também ganhou o nome inspirado na Bíblia. Nathael Arcanjo, de nove anos, nasceu prematuro de sete meses, pesando apenas 1,1 kg. O segundo nome foi adicionado após uma promessa. “Ele cabia na palma da minha mão. Meu sogro pediu que, se ele sobrevivesse, colocássemos o nome de um anjo. E Deus nos abençou”, recordou Jesus.
Embora o segundo filho tenha nascido saudável, a homenagem foi repetida para garantir a bênção. Jordan Arcanjo já tem três anos.
Casado há 17 anos, o homem de baixa estatura e porte físico forte revela que não frequenta a igreja tanto quanto gostaria. Com a rotina lotada, deixa as missas apenas para os dias especiais. Santa Cruz do Sul abriga um templo neogótico, considerado pela prefeitura o maior da América Latina: a Catedral São João Batista, que fica em uma praça no coração do município.
“Participei muito da igreja quando era mais novo. Depois fui para o Exército e sacrifiquei bastante coisa. Tentamos ir à Catedral sempre aos domingos”, justificou.
As brincadeiras com o nome se acentuam quando o pai, que ainda mora em Bagé, vem visitar a família. "Meus colegas brincam: ‘quando Deus chega?’. Ou então: ‘se Jesus já é bom, imagina o pai dele’. Acho graça. São todas brincadeiras positivas", contou Jesus. O pai, bem humorado, replica. "É muita responsabilidade ser chamado de ‘Deus’. O negócio é dele, ele que se chama Jesus", completou o aposentado Aílton.
Nascido no mês de junho, o soldado Jesus repetirá neste fim de ano o que tem feito desde que se mudou para a cidade do Vale do Rio Pardo. Por trabalhar em escalas de plantão, terá de passar o Natal no trabalho. A folga com a família será só no Ano Novo, quando viajará para Bagé para comemorar a chegada de 2014. "Somos meio bairristas por sermos da fronteira, então gosto sempre de voltar para lá e rever todo mundo", explicou.
Avó queria formar ‘família sagrada’
Em Bagé, a avó Maria Cândida, de 88 anos, conta que queria formar a "família sagrada". Por ter se casado com um Jesus, chamou o primeiro filho de José. "Tive 11 filhos. Hoje só tenho oito. Eu brincava que queria uma ‘família sagrada’ e realmente tenho", contou bem-humorada a dona de casa. Além do Jesus neto e do falecido avô Jesus, Maria Cândida também deu o nome Jesus para outro de seus filhos.
Atualmente, ela mora com uma das filhas. Católica praticante, costumava acompanhar sempre os eventos e missas da igreja da cidade. "Agora já estou velha e quase não saio", disse. O evento do ano é seu aniversário, quando a família toda costuma se reunir para comemorar.
Um dos momentos que deram à avó a certeza de ter uma família abençoada foi o atropelamento do neto Jesus, na frente de casa. "Ele foi salvo porque tem o nome de Jesus. Quando era menino viu seu pai chegando e saiu correndo sem olhar a estrada. Um carro o atropelou. Ele parou embaixo do carro e só teve algumas escoriações", relembrou, emocionada.
Rotina violenta é suavizada pelo voluntariado
Há nove anos na Brigada Militar, o soldado Jesus mora em uma casa de poucos cômodos. Quando não está envolvido com as atividades da polícia, gosta de jogar videogame com o filho mais velho. Gremistas fanáticos, os jogos de futebol são o programa preferido. “Vim para cá por causa do meu trabalho. Sou PM, trabalho nas áreas sociais da região e atuo também no policiamento”, explicou, sentado em uma cadeira de praia na varanda de casa.
Jesus garante que não sente medo da profissão, mas pede para que seu endereço não seja divulgado e a casa não fosse fotografada. “Prezo pelos meus filhos, às vezes recebo ameaças”, disse.
E foram justamente as experiências violentas que o motivaram a participar de projetos sociais abraçados pela Brigada Militar no estado. Na terça-feira (10), Jesus formou ao lado de nove colegas 700 crianças no Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência (Proerd).
“A gente cansa de ‘enxugar gelo’, como dizemos no jargão da polícia. Prendemos os caras e uma semana depois já estão soltos. Então trabalho diretamente na prevenção. Sou instrutor e realizamos duas formaturas por ano. Já foram mais de 16 mil alunos na cidade”, contou orgulhoso.
O trabalho realizado leva os amigos a fazerem brincadeiras com o nome. No batalhão do município, a soldado Michele Vargas garante que o colega tem vocação. “Ele faz realmente um ‘trabalho de Jesus’. Faz o que a sociedade toda deveria fazer”, pontuou Michele.
O capitão Robinson Luiz Flores também elogia. "É um exemplo a ser seguido pelos outros campanheiros. Mostra lealdade e está sempre envolvido nessas ações sociais", falou Flores.
Além da prevenção contra as drogas, o BM trabalha na formação do pelotão mirim, ensinando lições de cidadania a menores. Por integrar o pelotão montado, nas segundas-feiras Jesus completa a vocação instruindo alunos da Apae em aulas de equoterapia.
“Quando comecei a trabalhar com essas crianças, não tinha noção. A gente vê o crescimento que eles têm conosco e nós com eles”, ressaltou.
Visto quase como herói, ressaltado pelo nome abençoado, ainda assim Jesus gosta de viver com os pés no chão e prega a normalidade. "Sempre que acordo, dou bom dia a mim mesmo e dou bom dia a Ele (Deus). Entrego minha vida a ele porque sei que tem o melhor para mim. Quando a gente nasce, já está com a passagem de volta, mas a gente não sabe o dia. Temos de fazer o bem, prezo isso", profetizou.
Fonte: G1