Objetivo é permitir que casais possam receber o sacramento da comunhão, hoje vetado a divorciados e recasados.
Presidente da Comissão para Vida e Família da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), o bispo de Camaçari (BA), d. João Carlos Petrini, acredita que os processos de declaração de nulidade de casamentos tendem a ser acelerados, como forma de permitir que casais possam receber o sacramento da comunhão, hoje vetado pela Igreja aos divorciados e recasados. Veja os principais pontos da entrevista.
Do ponto de vista das famílias, que mudanças podem ocorrer na Igreja diante do discurso de acolhimento do papa Francisco?
Eu diria que o papa Francisco está destravando a Igreja. Pela linguagem, pelo gesto. Está abrindo para o essencial, a misericórdia de Deus que acolhe, que perdoa, que abraça. Multidões inéditas vão à Praça São Pedro. A família talvez seja o ponto mais sensível da vida da Igreja. A transmissão da fé não se recebe dos padres, mas da avó, da mãe, do pai. Essa transmissão está em crise. Os recasados, os divorciados não são poucos. Vejo muitos que têm sincero sofrimento por não chegar ao sacramento. O papa quer consultar o mundo inteiro sobre as práticas, a realidade, em busca de um caminho.
É possível que divorciados que se casaram novamente sejam autorizados a comungar?
Sinceramente, eu não cultivaria sentimentos de que o papa vai renovar tudo, ignorar dois mil anos de tradição católica. Ele não veio para inventar uma nova Igreja, ele veio para renovar a nossa Igreja, procurando retomar a mensagem originária. Certamente é possível pensar em formas de acolher. Muita gente se casa com pouca consciência do que está fazendo. É comum entre nós, padres, bispos, dizer que o matrimônio não valeu, no sentido de que não estava presente a consciência adequada. Um caminho poderia ser facilitar o processo de declaração de nulidade.
Como é possível dar agilidade aos processos?
Existe um tribunal eclesiástico que julga o pedido de nulidade de um casamento que se desfez. É preciso entrar na fila, demora, o processo pode variar de um a quatro anos. Quando termina a primeira instância, mesmo que todas as partes concordem que não foi um casamento, tem uma segunda instância, faz tudo de novo. Alguns sugerem: vamos simplificar, se houver consenso de todas as partes, não vamos fazer segunda instância. Tentar simplificar os processos para que sejam mais baratos, durem menos.
Se for declarada nulidade, um novo casamento é possível e o sacramento, autorizado?
Será o primeiro matrimônio, já que o outro foi declarado nulo e abre a possibilidade do sacramento.
O que significa na prática o acolhimento de casais homossexuais?
O acolhimento de homossexuais na Igreja não é novidade, quando ainda os homossexuais não levantavam a bandeira forte, ideologicamente poderosa, a Igreja acolhia, ouvia, orientava.
Qual é sua orientação para batismo de crianças filhas de casais do mesmo sexo?
A orientação que temos conversado entre os bispos é que acima de tudo o batismo é bom para a criança. Quem vai educar essa criança na fé católica? Tem alguém que vai cuidar seriamente disso? Tem. Então está bem, vamos batizar. Se for só para fazer fotografia, chamar a imprensa, a resistência é maior. Mas se for sincero, o acolhimento é direto.
Fonte: Estadão