Levantamento do IBGE mostra que Brasília tem a quarta maior média de casamentos do Brasil. Mas quem pensa que matrimônio significa família maior precisa checar outros dados: a taxa de fecundidade está entre as mais baixas
Seis anos de espera e pouco menos de três minutos de cerimônia. Mesmo no dia do casamento, em um cartório da Asa Sul, a ansiedade da administradora de empresas Patrícia Silva Araújo, 31 anos, não deu trégua. O noivo, Geraldo Aurélio Cipriano Resende, servidor público, 42, chegou cerca de 40 minutos atrasado ao local, onde era esperado por parentes e amigos que foram acompanhar a solenidade. O casal integra as estatísticas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgadas ontem na pesquisa Síntese de Indicadores Sociais, que aponta o Distrito Federal como a unidade da Federação com a quarta maior média de casamentos do Brasil 8,1 por mil habitantes em 2008. A média nacional, por exemplo, é de 6,7 por mil habitantes no mesmo período 0,1 a menos que em 1999. O valor é igual ao registrado no estado de São Paulo e perde apenas para Acre, Espírito Santo e Goiás, nesta ordem.
Estamos juntos há bastante tempo, mas só agora decidimos oficializar a relação. Meu pai apertou o noivo, brinca Patrícia. Para justificar a grande quantidade de casamentos, a juíza de paz Eunice Oliveira Pennaforte usa um antigo argumento de que a família continua sendo a célula madre da sociedade. O gerente de estatísticas vitais do IBGE, Claudio Dutra, dá uma explicação mais técnica e destaca que o caso da professora é simbólico. Segundo Dutra, o aumento da taxa ocorre, especialmente, porque a população de regiões urbanas busca documentar a união. O Distrito Federal tem essa cultura ainda mais forte, talvez, por abrigar a capital federal , ressalta o especialista.
Outro dado que torna o casamento de Patrícia e Geraldo ainda mais representativo na pesquisa do IBGE é o fato de o servidor público ter oficializado, ontem, uma união pela segunda vez. No DF, a taxa de casamentos entre divorciados e solteiras é a maior do país. A proporção deste tipo de casamento é de 10%. A média nacional nesse caso é de 7,4%. Os dois só destoam do estudo em relação à taxa de fecundidade. Mas, ao contrário do que mostra a pesquisa, o casal pensa em ter filhos.
Foco na carreira
A professora Renata Marques Maia Maciel, 28 anos, avisou ao marido Thiago Augusto Maciel, ainda quando o namorava, há três anos: Eu não pretendo ter filhos . A decisão de Renata é comum em Brasília. Segundo a pesquisa do IBGE, a taxa de fecundidade estimativa que leva em conta a média de filhos que uma mulher tem até o fim do período reprodutivo, levando em conta a quantidade total de pessoas do sexo feminino naquele local está entre as oito menores do país, 1,84. O número é menor, por exemplo, que a média nacional, de 1,94.
Cláudio Dutra ressalta que esse resultado pode ser explicado pelo alto grau de escolaridade dos brasilienses. As mulheres no Distrito Federal são mais escolarizadas e muitas optam pelo foco na carreira , diz. A tese de Dutra é confirmada com os números que mostram que as menores taxas fecundidade estão na Região Sudeste, a mais rica do Brasil. Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo apresentam os menores números. Enquanto a Região Norte é a que traz a maior média, 2,51, e os estados com as maiores taxas estão lá: Acre, Amapá e Pará.
A decisão de não ter filhos, garante Renata, não é um empecilho no relacionamento dela com Thiago. Quando ele vê alguma criança na rua, às vezes, ainda comenta que gostaria de ser pai, mas logo esquece. Hoje em dia, criar um filho é algo extremamente complexo. Enquanto sigo sem vontade de engravidar, procuro me especializar e seguir melhorando na carreira que escolhi , conta. Os meus sogros sempre dizem que querem netos, mas acho que estão se acostumando com a ideia de que não teremos uma família maior, completa.
Outro dado relevante que o estudo Síntese de Indicadores Sociais trouxe para o Distrito Federal foi a quarta colocação no ranking de menor taxa de mortalidade do país, 15,80% a cada mil crianças. Esse tópico é preocupante na Região Nordeste, com 32,20% a cada mil nascidos. No Maranhão, o percentual sobe para 36,50%. A boa notícia para Brasília é a alta expectativa de vida, maior média do Brasil, ao lado de Santa Catarina, com 75,8 anos.
Fonte: Correio Braziliense