Conhecido como ‘Wagner X’, jovem dá entrada para ter sobrenome

Menino foi abandonado pelos pais biológicos e nunca teve registro oficial. Na escola, o nome dele foi improvisado como ‘Wagner X’.

"Wagner Gabriel Barbosa", este é o nome que o adolescente sem sobrenome quer ser chamado após 15 anos. A mãe de criação solicitou a abertura do processo de adoção para inclusão do nome completo na certidão de nascimento na terça-feira (22). Ele, que foi abandonado pelos pais biológico e criado pela dona de casa de Rosalina Barbosa, foi matriculado na escola como Wagner "X". "Eu estou muito feliz, vai dar tudo certo", afirma Wagner.

O pedido de adoção foi solicitado à advogada da assessoria jurídica da Câmara de Vereadores de São Desidério, região oeste da Bahia, porque na cidade não existe defensor público. O encontro foi feito no mesmo dia em que foi protocolada a petição do Fórum da cidade. "Agora vamos esperar o juiz marcar a audiência, fazer a avaliação do caso. Tem o parecer do Ministério Público, que vai acompanhar todo o procedimento e esperar a sentença", explica a advogada Rita Gomes.

"Estou feliz porque vou ver meu filho com o documento na mão. Para trabalhar, estudar e ser feliz por tudo", diz a mãe adotiva de Wagner. A diretora da escola que acompanha o caso de Wagner espera que, com o fim do processo, o adolescente possa ter um registro oficial para o sistema de educação, já que até então ele tem um documento provisório. "Depois que sair o processo, a gente vai poder agora expedir o histórico dele, assim que concluir o curso para poder concluir a educação lá fora", conta a diretora Cleidiane Cruz.

Luta por sobrenome
Horas depois de nascer, o jovem foi deixado pela mãe biológica na porta de uma casa. Por não saber como proceder, Dona Rosalina, mãe de criação do rapaz, recorreu à escola para buscar uma orientação sobre como regularizar sua situação.

"Nós tentamos fazer o registro dele por intermédio do Conselho Tutelar da cidade, mas disseram que não podiam dar início ao processo de adoção porque os pais biológicos dele não foram encontrados", conta a diretira Cleidiane Cruz.

Sem uma adoção oficial, o rapaz nunca pode receber um complemento para o nome. Como nenhum aluno pode ser matriculado apenas com o nome, a diretora da escola deu um jeito e acrescentou um "X" no lugar do sobrenome. O registro incômodo é provisório e a própria diretora sabe que sem o sobrenome o jovem pode ter problemas para seguir nos estudos.

"Ele não consegue fazer nenhum tipo de exame pelo SUS, não consegue tirar nenhum documento… Ele não vai conseguir um histórico escolar porque não tem validade legal", diz Cleidiane Cruz, diretora do colégio.

"Eu preciso dos meus documentos para estudar, fazer faculdade, para fazer algum exame, uma consulta, não posso. Às vezes tem colegas que ficam brincando comigo, que não tenho sobrenome. É muito difícil, meu sonho é ter meus documentos prontos", destaca Wagner.

O problema de Wagner não se restringe à escola. Na casa simples de tijolo à vista onde mora com a mãe de criação, ele espera a vida mudar. Até hoje ele só tem uma certidão de nascimento, que exibe frustrado, já que no documento consta apenas o nome Wagner, e no lugar dos pais e dos avós, mais "x". Dona Rosalina tem dificuldade até para levar o filho para receber atendimento médico. "Precisa levar no médico, precisa fazer qualquer coisa e não tem documento, pra arrancar um dente não tem documento, ai não pode fazer ficha", observa Rosalina Santos, mãe de criação.

 

Fonte: G1

Leia mais:

Adolescente sem mãe e sem pai luta para ter sobrenome no oeste da Bahia