Em Moju (PA), duas mil crianças sem registro de pai

Um dado alarmante apontado pela Secretaria de Educação do município de Moju, nordeste paraense, contou mais de duas mil crianças registradas somente com o nome da mãe naquela cidade. O índice preocupou a Defensoria Pública do Estado que vai realizar uma série de ações, a partir de hoje, para que sejam feitos o reconhecimento de paternidade espontânea e voluntária, através do programa “Pai legal”.

A primeira etapa da ação acontece na escola de ensino fundamental Oton Gomes de Lima, onde 111 crianças foram encontradas nesta situação. O número representa quase a metade de alunos matriculados, cerca de 250 no total.

Serão ministradas palestras de sensibilização para as mães e possíveis pais dos alunos da escola Oton e da escola de educação infantil Dilza da Cunha Gorda, onde quase 60 estudantes não são registrados com o nome do pai. Segundo o Censo do IBGE, realizado em 2010, a população total de Moju é de cerca de 70 mil habitantes.

De acordo com a pedagoga Odalina Emiko, integrante do Núcleo de Atendimento Especializado da Criança e do Adolescente (Naeca) de Abaetetuba, que vai fortalecer o movimento em Moju, o atendimento vai proporcionar o desenvolvimento educacional baseado nas bases familiares. “Quando um aluno retorna para escola com a certidão constando o nome do pai e da mãe aumenta a autoestima, esclarece questões existenciais na sua mente e garante a efetivação de direitos cidadãos essenciais”, destacou.

O defensor público Silvio Grotto, responsável pela implantação do projeto em Moju, afirma que este é o momento para garantir a sensibilização dos possíveis pais, para que assumam seus filhos, além de ser uma forma de desafogar o Judiciário local através do reconhecimento paterno espontâneo, e não por reconhecimento litigioso por meio de ação judicial. “Ir para a Justiça solicitar o reconhecimento de um filho gera muitos transtornos para toda família. Cada mãe recebeu uma ficha para ser entregue ao possível pai, assim, cada um deve comparecer por vontade própria. A palestra que será ministrada pretende chamar atenção para a importância do reconhecimento paterno”, contou.

A ação conta com o apoio da Universidade Federal (UFPA) e, de acordo com Silvio, vai garantir à mãe e filho gratuitamente, os exames de DNA para aqueles que não tiverem certeza sobre a paternidade, apenas para casos extrajudiciais de conflitos. A solicitação deverá ser feita após uma conciliação entre ambas as partes. “Sempre objetivando o interesse da criança que a partir de então passa a ter um pai, um representante legal”, completa o defensor.

A coleta do sangue deve ocorrer no dia 9 de novembro. Hoje será feito apenas o cadastro dos interessados em esclarecer a paternidade. Aqueles que solicitarem o exame deverão apresentar os documentos civis do casal e da criança, incluindo a certidão de nascimento.
“Pai legal”

Segundo a Defensoria Pública do Pará, o programa pode ser aplicado apenas em procedimentos extrajudiciais. Quando já existir ação ajuizada de investigação de paternidade o requerente não se encaixa mais no programa.

O pai e a mãe se apresentam para fazer o exame de forma espontânea, caso contrário, o teste será obrigatório com ação judicial para crianças e adolescentes. O exame só é realizado se o suposto pai estiver vivo.

 

Fonte: Diário do Pará