Longe dos tabus, a união homossexual passou por uma repaginação em 2013. Tanto do ponto de vista jurídico quanto social, os casamentos LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros), apoiados em leis de reconhecimento, passam a se tornar um nicho no mercado de eventos também. De olho na nova área, um empreendedor de Porto Alegre lançou no início deste ano uma empresa voltada apenas aos cerimoniais gays.
Nos serviços da nova empresa, Rossano cuida de todos os detalhes. Desde a supervisão da montagem da festa, o recebimento de materiais contratados, a coordenação dos fornecedores, a orientação aos pais e padrinhos e o cerimonial da festa propriamente dito. Roteiros são pensados para que tudo siga uma ordem.
Além disso, para os clientes mais exigentes, a That’s Amore pretende também assessorar em todos os quesitos, da escolha do local da festa à papelaria. "O nome foi inspirado em uma música, ‘That’s Amore’, cantada por Dean Martin. E o conceito é bem esse, disseminar o amor para todo mundo. Quero falar sobre o que une um casal e fazer isso", conta o empreendedor.
Segundo o Censo 2010, o Brasil soma 60 mil casais homossexuais, dentre 37,5 milhões de casais do mesmo sexo. A Pesquisa Out of Now Global, realizada por uma empresa holandesa que levanta tendências e estudos da comunidade LGBT, aponta que 36% está na classe A, 47% na classe B, e que a comunidade gasta em média 30% a mais do que heterossexuais em bens de consumo. Ainda no nicho, de acordo com a Associação Brasileira de Turismo para Gays, Lésbicas e Simpatizantes (Abrat-GLS), o perfil movimenta R$ 150 bilhões por ano. “É uma oportunidade de mercado muito grande. E se o mundo gay não começar a se posicionar, o mercado não vai expandir. Temos que criar esta demanda”, aponta Rossano.
(Foto: Luiza Carneiro/ G1)
Além da oportunidade, Cristina acredita que a conquista do direito do casamento entre homossexuais é um avanço. “No casamento hétero a gente orienta a cerimônia religiosa e a civil. Já no homossexual, o que existia era apenas a união homoafetiva, então normalmente se chama um celebrante”, explica a empresária. Fato que irá mudar. Na última terça-feira (14), o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) aprovou uma resolução que obriga os cartórios de todo o país a celebrar o casamento civil e converter a união estável homoafetiva em casamento. “O celebrante normalmente trazia elementos para a cerimônia, falava bem e apresentava algumas simbologias”, complementa a gaúcha.
Para a produção do evento, algumas diferenças do casamento considerado "tradicional" são meticulosamente pensadas. A começar pelo espaço dos encontros entre produtores e clientes. No escritório onde Rossano e Cristina trabalham, as paredes são forradas por quadros com fotos de casamentos heterossexuais.
“Estou montando meu próprio espaço para tratar com exclusividade e discrição todos os detalhes”, revela Rossano, que valoriza a identidade dos clientes.
Alegre (Foto: Arquivo Pessoal)
Casal gay casa no civil e religioso
Quem aproveitou a oportunidade de firmar no papel o relacionamento de anos foi o produtor cultural Anderson Lee Lopes, de 39 anos, e o professor de geografia Tiago Bassani Rech, de 29 anos. No último dia 20, o casal se uniu em cerimônia religiosa de uma casa de umbanda no jardim do Museu Julio de Castilhos, casa histórica localizada no centro de Porto Alegre. Cerca de 150 convidados celebraram a união e participaram de uma janta em um restaurante da cidade.
“Estamos juntos há oito anos e fizemos a festa bem com a nossa cara. No convite, por exemplo, não sabíamos quem iria convidar, como nos convites héteros. Então escrevemos: ‘Anderson e Tiago convidam, ou Tiago e Anderson convidam, como preferir’”, contou com bom humor Anderson. "Na cerimônia religiosa, entramos em fila juntos, seguidos pela minha mãe e avó, e o pai de santo, que é meu pai de sangue também”.
O casamento civil foi realizado um dia antes no cartório. “Uma amiga nossa cantou o hino da umbanda em capela, decoramos com muitas flores e os convidados deveriam estar vestidos de branco. Somos muito brincalhões, então deixamos o ambiente muito descontraído”, emociona-se.
Agora, Anderson aguarda a transferência de Tiago para Porto Alegre. O professor dá aula em uma instituição de Pelotas e pretende morar junto com o marido até julho. “O dia em que casei foi o mais feliz da minha vida”, finaliza Anderson.
Fonte: G1