Casar está em alta em São Paulo. Mesmo com as uniões consensuais abocanhando espaço entre os casais, os paulistanos não arredam o pé de formalizar o vínculo: de 2000 para 2010, aumentaram em 41% os registros de casamento civil na capital, segundo o IBGE (Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Mas cada vez mais são divorciados e viúvos que trocam as alianças. Se em 2003 a união de solteiros somava na cidade 84,5% do total, em 2010 elas caíram para 79,8%, diante de uma fatia de 20,1% de noivos que já passaram das primeiras núpcias.
"No passado o casamento era encarado como algo único na vida de uma pessoa. Hoje, é visto como um evento que se repete quantas vezes a pessoa desejar", diz a antropóloga Joice Melo Vieira, do Departamento de Demografia da Unicamp.
O aumento do número de casamentos também é reflexo da maior estabilidade econômica da última década, segundo a demógrafa Glaucia Marcondes, do Núcleo de Estudos de População da mesma universidade. "Permite que as pessoas façam planos de formar uma família e que planejem um casamento com tudo o que o ritual pede: montar casa, vestido, festa", diz.
A média de uniões informais vem crescendo no Estado, mas ainda está abaixo do índice nacional: 29,5% contra 36,4%. Para Cláudio Dutra, pesquisador do IBGE, a maior formalização diz respeito ao maior acesso à Justiça em São Paulo. "Isso acaba facilitando o casamento e também o divórcio, abrindo caminho para que mais pessoas se recasem."
Em 2010, houve 33% mais divórcios do que em 2000. Para Glaucia, as pessoas viram que, "se a relação não dá certo, uma boa separação pode ser melhor do que um péssimo casamento". "Ser divorciado não é carma para mais ninguém", completa Dutra.
"CASAR ESTÁ MAIS FÁCIL"
A administradora de empresas Maria Rita Alexander, 42, está em seu terceiro casamento –todos formalizados em cartório e comemorados com festa. "Casar é importante. Acho que se as pessoas estão juntas elas têm de formalizar para ficar claro para os amigos, para a família e para elas mesmas", diz. "Com o casamento, fica a ideia de que é pra valer, que é pra sempre."
O primeiro matrimônio, aos 21, durou nove anos. "Minha dedicação profissional atrapalhou a relação", conta. O segundo, aos 32, terminou com três anos. "Não tinha concorrência com o trabalho porque ele já conhecia meus horários loucos, mas ele queria filhos; eu, não."
Maria Rita se casou com o atual marido em outubro de 2011, numa cerimônia ecumênica, mas o casal já namorava havia sete anos. "É a minha paixão, ele respeita minha individualidade e não quer ter filhos."
Os dois moram em apartamentos diferentes, mas se encontram todos os dias e passam os fins de semana juntos, numa casa no interior de São Paulo. "Acho que o fato de o divórcio estar menos complicado gerou uma certa comodidade. Casar está fácil, se divorciar também", afirma.
É a mesma opinião do advogado Flávio Tartuce, diretor do Instituto Brasileiro de Direito de Família de São Paulo. "Com mais facilidade para o divórcio, aumentou também o número de recasamentos", diz. Até 2010, a separação prévia era requisito para a concessão do divórcio. No ano passado, uma emenda constitucional suprimiu essa exigência e permitiu o divórcio direto.
"Ele pode ser feito quase que automaticamente, o que fez alguns críticos afirmarem que se estava banalizando o casamento", diz Joice Melo Vieira, da Unicamp.
Editoria de Arte/Folhapress | |
Fonte: Folha.com