A importância da vacinação contra a Covid-19 está, cada vez mais, se refletindo nas estatísticas de mortes pela doença registradas ao redor do país. Em Belo Horizonte, o mês de abril foi o pior desde o início da pandemia em relação ao número de óbitos de pessoas entre 20 a 39 anos.
O aumento registrado no mês foi de mais de 80% quando comparado à média dos outros meses, conforme dados coletados nos cartórios da capital.
Enquanto isso, o número de mortes entre as faixas etárias já vacinadas vem caindo, principalmente entre a população que já recebeu a segunda dose dos imunizantes. As informações são de levantamento feito pela Arpen-Brasil (Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais), com dados de cartórios disponíveis no Portal da Transparência do Registro Civil.
De acordo com o levantamento, que cruza os dados da base nacional com os dados históricos do estudo Estatísticas do Registro Civil, promovido pelo IGBE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em BH, a faixa etária que registrou o maior percentual de aumento em relação à média desde maio de 2020 foi a da população entre 20 e 29 anos, com crescimento de 109% no número de óbitos em abril.Os números absolutos de falecimentos desta faixa etária também aumentaram em abril, passando de 3 em março para 15 no último mês.
O levantamento feito com base nos registros dos cartórios é maior do que o balanço oficial divulgado pelos governos municipal e estadual, mas a diferença nos números está dentro do previsto, já que há uma série de protocolos a serem seguidos antes da confirmação da Covid-19 como causa da morte nos dados oficiais.
O presidente do Recivil (Sindicato dos Oficiais de Registro Civil das Pessoas Naturais do Estado de Minas Gerais), Genilson de Oliveira, ressalta que os números impressionam os trabalhadores dos cartórios de todo o país. “Desde o começo dos levantamentos, os números que vemos agora são históricos, além de assustadores e tristes”, relata.
“Em maio, os números de mortes dos mais jovens estão diminuindo, mas março e abril foram meses fora da curva. Nunca tínhamos visto nada igual. Tínhamos trabalhadores que lavraram em média 20 óbitos por mês, e agora fazem 50, 60…”, completa.
Ainda segundo levantamento da Arpen-Brasil, faixa etária com idade entre 80 e 89 anos apresentou uma queda de 45% no número de mortes e uma diminuição de falecimentos de 216 para 182 em BH, em abril. O mesmo aconteceu com a faixa etária que vai de 90 a 99 anos, que teve uma queda ainda maior: 68% a menos no número de óbitos e uma diminuição de mortes de 66 óbitos em março para 47 em abril. As pessoas com idade acima de 100 anos registraram queda de 82% de óbitos.
Para o presidente do Recivil, a única causa direta que pode ser relacionada aos números é a vacinação contra a Covid-19, que provoca a diminuição dos óbitos em faixas etárias mais avançadas. “Entre os idosos, principalmente os que já tomaram a segunda dose da vacina, os números estão diminuindo muito. Não tem explicação concreta para o aumento das mortes entre a população mais jovem, pode ser porque eles aglomeram mais ou por causa das novas cepas, mas a única relação certeira que vemos impactar os números é a vacinação entre os mais velhos”, afirma.
Por que os números são diferentes? Os números registrados pelos cartórios e pelos órgãos oficiais de saúde apresentam variações, que podem ser explicadas por um conjunto de fatores. De acordo com os dados do Portal da Transparência do Registro Civil, Minas já registrou 42.421 óbitos com suspeita ou confirmação de Covid-19, enquanto, segundo os dados oficiais da SES-MG (Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais), 39.128 mortes pela doença haviam sido confirmadas até esta segunda-feira (24).Já na capital mineira, o portal do Registro Civil aponta 6.453 mortes por suspeita ou confirmação da infecção pelo coronavírus, e o boletim epidemiológico divulgado hoje pela PBH (Prefeitura de Belo Horizonte) confirma 4.921 óbitos pela doença.
Procurada pelo BHAZ, a prefeitura explicou que “a inclusão de óbitos no boletim depende da análise – por parte de uma equipe especializada – das notificações de casos, declarações de óbitos, além da confirmação da causa da morte, por meio de resultado dos exames”. Por isso, os números apontados pelos cartórios sobem com mais velocidade.
Outro motivo pontuado pela PBH para a diferença entre os dados é que os registros no boletim epidemiológico consideram o local onde reside o paciente, enquanto os registros nos cartórios sinalizam a cidade onde a certidão de óbito foi lavrada.
“A Secretaria Municipal de Saúde tem feito sensibilização junto às unidades notificadoras, o que inclui além da rede SUS-BH, os serviços da saúde complementar e privado (suplementar), sobre a importância da agilidade na notificação dos casos”, completou a prefeitura.
O Governo de Minas também explicou que a flutuação nos números é ocasionada “pela divergência dos critérios empregados”. No Registro Civil, são registrados óbitos suspeitos ou confirmados por Covid-19, enquanto a SES-MG divulga apenas os óbitos confirmados para doença e registrados no sistema oficial do governo federal, o Sistema de Informação da Vigilância Epidemiológica da Gripe (SIVEP-Gripe).
Protocolo nos cartórios
O presidente do Recivil reforça que os dados do portal da transparência são atualizados “quase em tempo real”, enquanto os dados dos órgãos de saúde são analisados tecnicamente por mais tempo. “Todos os dias quando terminamos nossos trabalhos nos cartórios, enviamos os dados dos óbitos lavrados para a as centrais estaduais, que enviam os números para a Arpen e o portal é atualizado”, explica Genilson de Oliveira. Ele ainda reforça uma informação importante a respeito da lavratura das certidões de óbito, que pode fazer diferença na quantidade de mortes registradas em cada cidade. “Há um desconhecimento muito grande da população de que, desde 2017, os óbitos não precisam mais ser lavrados nos locais onde ocorrem. Muitas vezes, as famílias vêm para as capitais para tratar um parente e ele acaba morrendo na cidade”, começa.
“Hoje, pode ser feito o traslado do corpo, com autorização do médico, para a cidade da pessoa, sem causar tumulto para os familiares que não estão com os documentos na capital, e evitando aglomerações nos cartórios das cidades grandes”, finaliza o presidente do Recivil.
Mais faixas etárias
De acordo com a pesquisa da Arpen-Brasil, a faixa etária que vai dos 30 aos 39 anos viu o aumento do número de óbitos crescer 88% em abril, em Belo Horizonte. O crescimento também se deu nos números absolutos em relação a março, passando de 16 para 43. O mesmo aconteceu com a faixa etária dos 40 aos 49 anos, que também teve um aumento percentual de 63% nas mortes e nos números absolutos de falecimentos em relação a março, passando de 63 para 91.
Outras faixas etárias que apresentaram aumento foram pessoas entre 50 e 59 anos, com 38%,e um crescimento do número absoluto de óbitos de 128 para 186. A faixa etária entre 60 e 69 anos viu um crescimento de 30%, com óbitos passando de 281 em março para 351 em abril.
Ainda em crescimento, mas em patamares inferiores, a população entre 70 e 79 anos registrou aumento de mortes de 10% em relação à média desta idade no período, e um aumento de falecimentos passando de 322 em março para 403 em abril.
Minas e outros estados
Ainda segundo o levantamento, Minas Gerais registrou aumento de óbitos acima da média nacional nas faixas etárias entre 20 e 29 anos e 30 e 39 anos, totalizando crescimentos de 67% e 54% respectivamente, enquanto no Brasil os aumentos foram de 38% e 56%.
Já a população com idade entre 40 e 49 anos e 50 e 59 anos do estado registram falecimentos abaixo da média nacional, com 54% e 45% respectivamente, enquanto os números nacionais apontaram crescimento de 57% e 54%.Todos os estados brasileiros registraram aumento de óbitos na faixa entre 40 e 49 anos na comparação com a média desta idade desde o início da pandemia, e 15 deles estiveram acima da média nacional. Já na faixa etária entre 30 e 39 anos, 22 estados registraram crescimento em abril em relação à média do período, sendo que 12 deles estão acima da média nacional.
Na última faixa com crescimento nacional acima de 50%, entre 50 e 59 anos, novamente todos os estados brasileiros registraram crescimento, sendo 16 deles acima da média nacional.
Fonte: BHAZ