As famílias e os relacionamentos vêm mudando num ritmo que acompanha a própria revolução da sociedade tecnológica. Hoje, diferentemente do que ocorria há algumas décadas, o núcleo familiar já não é mais baseado no rígido modelo dos parentescos de sangue. Pais vêm e vão, e o que mantém as pessoas unidas, muito mais do que as características herdadas geneticamente, são os laços afetivos construídos na convivência diária.
Ciente dessa transformação, um adolescente morador de Cascavel (PR) conseguiu, no Cartório, adicionar o nome do pai afetivo ao lado do nome do pai biológico em documento oficial (RG).
Com as novas estruturas domésticas cada vez mais flexíveis, parentes de sangue perdem um pouco da importância também na visão dos brasilienses. O crucial é a criança ter apoio e carinho em casa, e nem sempre quem provê essas necessidades são os pais biológicos.
Modificações
A analista de sistema Laís Tuany Souza Peixoto, 24 anos, ficou feliz em ver a conquista do garoto no Paraná e espera a chegada dessas mudanças na capital para que sua filha possa também modificar sua certidão de nascimento.
Lara, com dois anos e nove meses, é fruto de um antigo relacionamento que terminou assim que ela ficou grávida. No início da vida de sua filha, Laís voltou a se relacionar com um antigo namorado, agora seu futuro marido, Fábio Augusto Alves. “Ele veio me visitar quando ela ainda tinha 24 dias, e vivia lá em casa me apoiando como amigo. Ele participou desde o começo, me ajudava a levá-la para os lugares, a carregar carrinho e bolsas. Começamos a namorar quando ela tinha apenas quatro meses”, contou Laís.
Hoje, não há dúvidas de que Fábio é o pai da criança. Ele participou dos primeiros passos da Lara, e fez tudo que um pai deve fazer. Apesar do carinho, a nova família já passou por algumas dificuldades pela falta de parentesco de Fábio com a criança. “Já vivenciamos confusões por o nome dele não estar na certidão. Ele foi inclusive barrado em reunião de pais. Em outra ocasião, não pode levá-la ao hospital, pois não era o responsável por ela. Tenho esperanças que seremos uma família unida”, espera Laís.
Histórias com final feliz
Muitas histórias de famílias diferentes dão certo: são inúmeras as crianças que passaram a infância e adolescência com mais de um pai, podendo contar com mais pessoas e agregando sentimentos positivos. Assim aconteceu com Kamilla Beatriz Feitosa, servidora pública, 32 anos, que acredita que o sangue não influencia. Para ela, o que importa é o amor e a convivência.
“Cresci muito distante do meu pai biológico. Mas desde os meus cinco anos, o marido da minha mãe assumiu a função de pai em toda a plenitude. Incluindo todas as dores e delícias de uma relação entre pai e filho”, contou Kamilla.
Quando questionada sobre o relacionamento dela com o padrasto, José Geraldo, casado há 17 anos com a mãe, Kamilla não hesita em assumir: “Ele é o meu pai! O chamo de pai desde criança. Foi ele que participou das festinhas no colégio, investiu no meu cursinho de inglês, comemorou quando eu passei no vestibular e me formei. Nas horas da bronca, de me educar, é ele que está lá para mim até hoje”, disse emocionada.
Dois pais
Caroliny Rodrigues tem a regalia de ter duas imagens paternas que, às vezes, até lutam por seu afeto. Um pouco depois de nascer, os pais biológicos se separaram, e com dois anos ela conheceu seu pai.
“Contam que fui a primeira a conhecê-lo porque minha avó passava as roupas dele e eu sempre gostava de suas visitas. Eles começaram a namorar, e ele virou uma figura paterna”, contou. Desde então, ela virou a primogênita de Juarez Brandão que hoje está separado da mãe, mas não abre mão da filha afetiva.
Fonte: Jornal de Brasília