São Paulo (SP) – O terceiro dia do XX Congresso Brasileiro de Direito Notarial e de Registro teve em sua abertura o painel “A Marca Cartório no Brasil”, ministrada pelo publicitário e empresário Luiz Lara. Participaram ainda, como mediadora, a presidente da Associação dos Notários e Registradores de São Paulo (Anoreg/SP) Giselle Barros, e como debatedor, o vice-presidente do Instituto de Registro de Títulos e Documentos de Pessoas Jurídicas do Brasil (IRTDPJ-Brasil) Carlos Alberto Chermont.
A presidente da Anoreg/SP, Giselle Barros, abriu a plenária destacando a importância de se debater o modo como a sociedade enxerga os serviços cartorários no Brasil. “Quando pensamos no futuro da atividade, temos que pensar como a população avalia o segmento. Tenho certeza que todos aqui sabem que nossos números são muito bons, a nossa eficiência já é mais que comprovada, mas ainda não temos o reconhecimento da sociedade. Somos vistos como geradores de burocratização, quando na verdade, somos um grande propulsor da desburocratização do nosso País. É para pensarmos nas ações para mudar essa imagem que estamos realizando este painel”, afirmou.
Convidado de honra da mesa, o publicitário Luiz Lara iniciou sua apresentação destacando que toda organização precisa ter um tom de voz. Segundo ele, ninguém acorda com vontade de consumir propaganda, mas todas as escolhas diárias que realizamos – roupa, sapato, modelo de carro e até jornal – envolvem uma identificação, criada por meio da publicidade.
“Nós temos que nós comunicar mais. Ninguém acorda pensando em publicidade. Mas do momento que você levanta até o momento que você dorme, as marcas que você escolheu são as que você conhece, gosta e confia. E quem te conectou com essas marcas foi a boa propaganda. Criada de forma ética, criativa e pertinente. Um bom exemplo, é o Iphone. Outros celulares têm funções parecidas, mas porque as pessoas só dormem na porta da Apple? Porque na verdade a conexão que temos com as marcas são por razões emocionais, não racionais. Você até justifica a compra de forma racional, falando das qualidades do produto, mas você compra por questões emocionais. E hoje, com as redes sociais, não é só sobre o que as pessoas querem ouvir, mas é principalmente sobre o que as pessoas querem falar”, explicou.
No âmbito dos cartórios, o publicitário destacou que por não trabalharem sua própria imagem, os serviços extrajudiciais são rotulados de maneira errônea pela sociedade. Segundo Lara, apesar de presentes na vida de todo cidadão desde o nascimento, os cartórios ainda são vistos como órgãos burocráticos do Poder Público.
“Os cartórios estão sempre presentes nas nossas vidas. Tiveram diversos momentos da minha vida que foram registrados nos cartórios. E que se tornaram uma proteção e garantia jurídica graças ao papel relevante de notários e registradores. Mas eu confesso que me lembro deles como momentos burocráticos. Em que eu me sentia obrigado a fazer esses procedimentos”, contou ele.
Para mudar essa percepção, o publicitário defendeu uma maior comunicação e valorização da marca ‘cartório’. “As pessoas estão consumindo mais comunicação. As últimas eleições mostraram isso. O WhatsApp foi usado de uma forma muito inteligente, em que se conseguiu conversar com a população, criar engajamento. E foi o que ganhou a eleição. Nós temos que fazer a mesma coisa com as marcas. Não temos que transmitir os atributos racionais. Ter qualidade já é a regra do jogo. Já é obrigação”, afirmou. “O que é preciso criar, é uma identificação emocional, o intangível. É isso que leva a decisão de compra. E é aí pergunto: vocês estão provocando mobilização? Engajamento? Estão conversando com a sociedade? A sociedade vê os cartórios nos momentos mais felizes da sua vida como casamento e registro dos filhos? Eu, pessoalmente, me sinto distante de vocês. E acredito que esse seja um sentimento comum dentro da sociedade”, provocou.
Lara ainda destacou que notários e registradores precisam contar mais e melhor suas histórias, explicando o papel que os cartórios têm dentro da sociedade. “Se questiona muito porque os serviços cartorários são caros. Vocês respondem o por quê? Vocês pagam diversos impostos ao Governo. Precisam contar essa história. É preciso resignificar o nome ‘cartório’. É a percepção de valor que faz uma marca ser reconhecida. E essa é a parte intangível. E como vocês estão cuidando da marca ‘cartório’? Qual o valor que está sendo construído? Não adianta ser totalmente correto juridicamente, se não se construir uma identidade. Porque o mundo jurídico está distante da vida das pessoas. Vocês precisam cuidar da imagem, porque é na ausência de imagem que estão imputando essa ideia de que os cartórios são burocráticos, caros, chatos… O brasileiro é ótimo para rotular. E na ausência de uma imagem, as pessoas rotulam”, completou ele.
Fechando o painel, o vice-presidente do IRTDPJ-Brasil, Carlos Alberto Chermont, concordou que os serviços extrajudiciais ainda precisam trabalhar o valor que tem dentro da sociedade. “Uma empresa quando comemora tempo de vida, faz uma celebração para enaltecer o tempo que está no mercado. Nós existimos há séculos e não somos reconhecidos. Alias, muitas vezes somos mal vistos. A autenticidade e segurança jurídica dos nossos serviços são pontos que devemos sim nós orgulhar. Mas ainda temos a necessidade de mostrar o nosso valor. Para, quem sabe um dia, sermos reconhecidos”, afirmou.
Fonte: Anoreg-BR