Em uma sala repleta de livros no sexto andar de um edifício corporativo no Oeste da Alemanha, Lutz Kuntzsch deu a uma mãe a má notícia: – Me desculpe, mas você não pode chamar seu filho de Garoto (Junge, em alemão) – disse ele à mulher de Berlim.
É um substantivo, não um nome, ele explicou, e por tal razão ele não poderia dar a ela a empfehlung (recomendação) para entregar ao cartório local. O garoto não poderia ser legalmente batizado de Garoto.
A mulher havia telefonado para um número da Sociedade pela Língua Alemã, um serviço independente de aconselhamento linguístico que pretende tanto preservar o idioma quanto ajudar as pessoas a usá-lo propriamente. Uma de suas atribuições é trabalhar junto aos cartórios, para garantir que as crianças não tenham problemas futuros com nomes estranhos.
A atriz Gwynet Paltrow e o cantor Chris Martin não poderiam ter chamado sua filha de Apple (maçã) na Alemanha, diz Kuntzsch, linguista que controla a política de nomes em Wiesbaden, Hesse.
– Apfel? – ele se impacienta – Não. Isso não funcionaria aqui. E se a criança fosse gorda como uma maçã? Pense em como seria provocada.
Kuntzsch precisa considerar três coisas quando aconselha pais sobre os nomes de seus rebentos: – Primeiro, e mais importante, consideramos o bem-estar da criança. Poderia um nome colocá-la em perigo em qualquer forma, ou vulnerabilizá-la em relação a abusos? Em segundo lugar, o nome é realmente um nome? Em terceiro lugar, o nome deve indicar o sexo da criança.
Nesse último ponto, pais que queiram chamar a filha de Alex, por exemplo, teriam a permissão de fazê-lo apenas se juntassem este primeiro nome com um outro mais transparentemente feminino.
No ano passado, 3 mil pessoas telefonaram ao serviço para pedir conselhos relacionados a nomes. É um serviço pago: 1,86 euros por minuto pela ligação, e 20 euros pelo serviço oficial de aconselhamento sobre nomes.
– Muitas vezes, as pessoas têm problemas para registrar um nome por ser estrangeiro, ou por não ser claramente um nome feminino ou masculino – diz Kuntzsch.
Em 2010, a sociedade permitiu alguns nomes bem fora do comum, incluindo Napoleão, Kix e Nox. Nomes que não passaram no teste incluiam Pfefferminza (hortelã-pimenta) e Puppe (boneca), junto com Berlim, Nápoles e TomTom. É interessante notar que Adolf não foi banido, embora seja muito incomum atualmente.
E como é no Brasil?
A legislação brasileira não define uma lista de nomes proibidos. Entretanto, determina que o cartório tem autonomia para se recusar a fazer um registro civil, caso o oficial julgue que o nome escolhido pelos pais é estranho ou bizarro, e acredite que possa causar constrangimentos à criança no futuro. Mas, mesmo entre os registradores, não há rigidez sobre a questão.
Entretanto, se os pais, inspirados por qualquer razão, insistirem em nomear o filho com algum nome estranho, e não aceitarem a recusa do cartório, o caminho é recorrer à Justiça. E quem sofre carregando um nome que odeia, deve pedir a mudança a partir dos 18 anos. A pessoa deverá comprovar na Justiça que o nome a expõe ao ridículo.
Nomes esquisitos
– Aeronauta Barata
– Agrícola Beterraba Areia
– Amin Amou Amado
– Antonio Treze de Junho de Mil Novecentos e Dezessete
– Barrigudinha Seleida
– Bizarro Assada
– Carabino Tiro Certo
– Céu Azul do Sol Poente
– Chevrolet da Silva Ford
– Colapso Cardíaco da Silva
– Comigo é Nove na Garrucha Trouxada
– Deus É Infinitamente Misericordioso
– Dolores Fuertes de Barriga
– Flávio Cavalcante Rei da Televisão
– Ilegível Inilegível
– Janeiro Fevereiro de Março Abril
– Letsgo Daqui
– Manganês Manganésfero Nacional
– Napoleão Sem Medo e Sem Mácula
– Natal Carnaval
– Padre Filho do Espírito Santo Amém
– Pália Pélia Pólia Púlia dos Guimarães Peixoto
– Primavera Verão Outono Inverno
– Produto do Amor Conjugal de Marichá e Maribel
– Remédio Amargo
– Rolando Escadabaixo
– Última Delícia do Casal Carvalho
– Os irmãos: Epílogo, Verso, Estrofe, Poesia e Pessoína Campos
– As irmãs: Xerox, Autenticada e Fotocópia
Fonte: Jornal de Santa Catarina