MADRI – Em 1973, Cayetana Fitz-James Stuart y Silva chegou a escritório em Madri e entregou um envelope lacrado, acompanhada de cinco testemunhas. Ela disse que ali havia era uma espécie de testamento. Mas com uma singularidade: que o seu conteúdo não seria revelado mesmo depois de sua morte. 42 anos depois, por conta de questões jurídicas, esta vontade da mulher com mais títulos de nobreza do mundo pode ser desfeita.
A duquesa de Alba morreu em 20 de novembro, aos 88 anos. Sua herança pode chegar aos 3 bilhões de euros. À época em que escreveu o testamento, Francisco Franco ainda estava vivo, e um ano antes havia morrido o pai dos seis herdeiros dela, Luis Martínez de Irujo.
A duquesa não contou a nenhuma testemunha sobre o conteúdo. O tabelião que selou o envelope, Alberto Ballarin, havia se aposentado vários anos antes da morte dela, mas não esqueceu a ordem e alertou seu sucessor, que transferiu todos os seus registros ao também notário Alfonso Madridejos.
No entanto, é possível que, ainda este mês, um juiz decida sobre a possível abertura do testamento, já que a duquesa fez outros testamentos posteriores. Legalmente, o documento válido é o último, então a vontade dela de manter o segredo pode ser revogada.
Na véspera do último Natal, o tabelião se apresentou com o envelope no tribunal na Praça de Castilha. Todos os envolvidos ficaram em frisson ao saberem do que se tratava. Um funcionário encarregou-se de levá-lo por conta própria até o tribunal. Com sua morte, era hora de abrir – no tribunal – o envelope que tinha sido confiado por Cayetana de Alba, com 14 títulos de nobreza espanhola e uma das maiores fortunas do país. As cinco testemunhas foram localizadas – algumas morreram anos antes.
A inquietação por causa do conteúdo chegou aos seis filhos da duquesa, que contataram a corte 81, responsável pelos procedimentos legais envolvendo a falecida.
– Outorgar uma vontade em segredo, sem nem dizer seu conteúdo ao tabelião, é algo muito excepcional. O normal é ir ao notário, descrever-lhe os bens e informar quais são os beneficiários – aponta Antonio Viejo, o juiz decano de Madri responsável. – Só resta esperar que se abra o testamento e conhecer qual era, há 42 anos, a vontade da duquesa, e o que ela queria que não se soubesse após sua morte.
Fonte: O Globo Online