Bancos usam BID para alertar emergentes

Presidente do Citigroup afirma, durante reunião do BID, que o ambiente de altíssima liquidez global está perto do fim, diante dos aumentos sucessivos das taxas de juros dos Estados Unidos


Marta Vieira

O presidente do Citibank, William Rhodes, alertou ontem, durante reunião de banqueiros na assembléia de governadores do Banco Intermaericano de Desenvolvimento (BID), em Belo Horizonte, que os spreads dos títulos dos países emergentes estão baixos demais, por causa da enorme liquidez global, e podem não estar refletindo corretamente o risco de se investir naquelas economias. “Eu estou neste negócio há 40 anos, e nunca vi uma liquidez como a dos últimos anos”, disse Rhodes. Os spreads são o adicional de rentabilidade (que reflete o maior risco) dos títulos em relação os papéis equivalentes do Tesouro americano. Segundo Rhodes, “pode-se questionar até que ponto esses spreads genuinamente refletem os riscos que investidores e credores estão assumindo em países que não estão perseguindo reformas econômicas de médio prazo, capazes de produzir crescimento sustentado e de produzir um ambiente de estabilidade”.

Rhodes é uma das principais autoridades em dívida de países emergentes na comunidade financeira internacional, e liderou, por parte dos credores, a renegociação nos anos 80 da dívida externa brasileira e de outros países latino-americanos. Atualmente, ele é vice-presidente do Instituto Internacional de Finanças (IIF), uma associação internacional de bancos.

Para Rhodes, o ambiente internacional de altíssima liquidez está próximo do fim. Ele observou que o novo presidente do Federal Reserve (Fed, banco central americano), Ben Bernanke, deu sinais de que vai continuar a subir a taxa básica americana, que já se elevou de 1% para 4,75% entre junho de 2003 e março de 2006. Até agora, o aperto monetário americano afetou pouco as taxas de juros de longo prazo, às quais os títulos dos mercados emergentes são mais sensíveis. Rhodes crê, porém, que elas acabarão subindo.

OUTRO LADO Apesar do alerta, os banqueiros fazem projeções otimistas de crescimento do volume de investimentos diretos nos países emergentes da América Latina, num cenário de inflação baixa e de avanços no controle dos gastos públicos.

Para Roberto Setúbal, presidente do Banco Itaú, “inflação baixa requer que os governos sejam cautelosos nos seus gastos, na administração das políticas fiscal e monetária e, de certa forma, temos observado isso em todos os países da América Latina”, afirmou o presidente do Banco Itáu.

O IIF prevê crescimento do Produto Interno Bruto (o PIB é a soma das riquezas produzidas na economia) de 4,1% na América Latina e inflação inferior a 5%, um número inédito para a média da região. Nas projeções do instituto, vão crescer mais este ano os investimentos privados nos mercados emergentes da Europa, entre eles Polônia, Hungria, Bulgária, Turquia, República Tcheca e Romênia. O fluxo de capitais privados para os países emergentes, no seu conjunto, deverá alcançar US$ 357 bilhões este ano, dos quais as instituições representadas no IIF serão responsáveis por US$ 170 bilhões, cifra recorde, de acordo com o Instituto.

O panorama nos países emergentes da Ásia aponta fluxo de capitais da ordem de US$ 50 bilhões e a China receberá a maior parte. O economista chefe do IIF, Yusuke Horiguchi, disse que mesmo num ambiente de maior circulação de dinheiro no mundo, existem alguns riscos para os investimentos nos países emergentes ligados ao aumento de custos da energia. Apesar disso, o fluxo de capital privado tende a crescer sustentado, ainda, pela expansão econômica das nações desenvolvidas. (Com agências) .

Fonte: Estado de Minas