É o milagre da multiplicação dos casamentos. Lá de longe vem chegando o noivo brasileiro. O recepcionista Eduardo Silva é o sorridente, de mãos dadas com o americano Rich, finalmente pronto para subir as escadarias do comprometimento. Nervoso? “O Rich está muito mais nervoso do que eu”, comenta Eduardo.
Em um outro ponto da cidade, Ammy decide usar a mesma camisa do noivado. Deborah faz o cabelo, ajeita o vestido, as jóias e o salto alto. Ava, a filha adotiva, vai de roupa nova.
A mãe de Ammy foi a última a saber da opção sexual da filha. Sentiu-se traída e enganada. Ela conta que passou anos sem trocar uma única palavra com a filha. Acabou cedendo e agora está orgulhosa.
Depois de oito anos de espera, Deborah e Ammy preferiram uma cerimônia simples, sem muita festa nem muitos convidados. O casamento delas vai acontecer em uma praça pública, no Centro de São Francisco, onde acontece uma grande cerimônia para realizar vários casamentos homossexuais. Agora, elas estão prontas para casar.
Orgulho é a certidão de casamento, reconhecida pelo estado da Califórnia. Da prefeitura de São Francisco, saiu grande parte da pressão política que levou a Justiça a autorizar o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
E o brasileiro Eduardo, enfim, pode celebrar a aliança oficial com seu parceiro americano.
Casamento legalizado, um estado onde mais de 70 mil crianças são criadas por casais homossexuais, reconhecimento da sociedade – há quem diga que tudo são flores para os gays da Califórnia.
“Às vezes, eu esqueço que existe isso, que eu sou homossexual, que ele é”, comenta o comerciante Renato Gouveia.
Quase uma década de relacionamento e muito trabalho na floricultura que construíram juntos, Renato e Marcelo encontraram na Califórnia uma aceitação que não tinham no Brasil.
“Quando a gente vai ao Brasil, a gente se pega em momentos em que ‘Ih, acho que eu fiz uma coisa que não deveria ter feito’. Mas, ao mesmo tempo, eu recapitulo o que eu fiz é tão natural. Às vezes é um toque que você faz na pessoa, nada proposital. É porque é natural. Você cresce com aquela coisa que a pessoa, casa, cria uma família”, diz Renato Gouveia.
“Se você pode reconhecer o seu parceiro, isso é a glória. Ainda na semana da Parada Gay, vai ter muita gente gritando e com olhos cheios de lágrimas. É difícil, não é fácil”, comemora o comerciante Marcelo Camilo.
Na primeira Parada Gay depois da liberação do casamento, um novo tipo de orgulho. O desfile em São Francisco teve show de criatividade, alguns exageros, mas a fantasia da moda tinha nome e sobrenome: casamento civil.
Fonte: Fantástico