Justiça pernambucana decide mudança de nome de estudante

Alexandre ainda era um adolescente de 14 anos quando começou a ser chamado no bairro onde morava, em Peixinhos, Olinda, de Alexandre L’Omi L’Odò. O nome, em língua Yorubá, significa “das águas do rio” e, dentro do candomblé, faz menção ao orixá Oxum. Há oito meses, Alexandre, agora com 31 anos, decidiu que era hora de assumir oficialmente o nome pelo qual tornou-se conhecido. Hoje, no começo da tarde, volta à 1ª Vara de Família e Registro Civil de Olinda, acompanhado de uma advogada, na tentativa de garantir esse direito. Esse seria o primeiro caso em Pernambuco em que alguém pede o acréscimo de um nome ao original alegando questões religiosas.

A única preocupação de Alexandre, que é estudante de História na Universidade Católica de Pernambuco e coordenador do Quilombo Cultural Malunguinho, é com os prazos. Depois de conseguir cerca de 15 certidões cartoriais solicitadas pela Justiça comprovando, entre outras coisas, que não tem antecedentes criminais em Olinda, Recife, Paulista e Jaboatão, Alexandre teme não conseguir mudar o nome tão cedo. “Muitas das certidões vencem com dois e três meses depois de emitidas e a Justiça informou que a agenda de pauta só abrirá a partir de janeiro do ano que vem, quando muitos dos documentos estarão vencidos”, lamentou o universitário.

Com a mudança de nome, Alexandre Alberto Santos de Oliveira passaria a ser chamado de Alexandre L’omi L’Odo Alberto dos Santos. O Oliveira, que vem do pai do universitário, sairia, pois, segundo ele, o Alberto já contempla esse lado da família. “Trata-se de uma decisão simples, segundo eu soube, e por isso vamos tentar falar com a juíza hoje sobre o assunto”, completou.

Alexandre conta que desde criança se identificou com a Jurema, religião de matriz indígena do Nordeste do Brasil e que se relaciona com o candomblé e com a umbanda nos espaços de terreiro. Adulto, começou a investigar a história da própria família e descobriu a ligação que possuía com a religião. “Essa é uma forma de mostrar para o povo que o candomblé é tão legítimo quanto qualquer outra religião e que os iniciados na religião devem assumir a sua ancestralidade”, disse.

Alexandre tem um blog (alexandreL′OmiL`Odò.blogspot.com) onde divulga informações sobre a religião.“Todos me conhecem assim. Não é justo herdar um nome e viver sem legitimá-lo oficialmente”, destacou.

 

Fonte: Diário de Pernambuco