Recivil promove mutirões para registro de índios do Norte e Nordeste de Minas Gerais

A equipe de projetos sociais do Sindicato dos Oficiais de Registro Civil de Minas Gerais (Recivil) realizou entre os dias 30 de junho e 9 de julho a quarta etapa do projeto “Registro Civil Quilombola e Indígena é Direitos Humanos”. A equipe percorreu oito aldeias indígenas pertencentes a quatro tribos diferentes e se emocionou com o aprendizado e com a cultura dos povos indígenas.


 


Durante o projeto, equipe percorreu as tribos Maxakali, Pataxó, Pankararu e Xacriabá, todas localizadas no norte e nordeste de Minas Gerais. Ao todo foram realizados 546 atendimentos.


 


Para obter acesso às tribos, a equipe do Recivil contou com o apoio de agentes da Funai ( Fundação Nacional do Índio). Nas aldeias Maxakali, por exemplo, a população indígena não fala português, e foi preciso a presença de um professor da tribo para traduzir as necessidades da população indígena.


 


A assistente social, Suede Avelar, também se encantou com a cultura indígena e contou detalhes da visita. “As mulheres não conversam com a gente. São os homens que se aproximam. O que mais me encantou foram os índios da tribo Maxakali, como eles conservam a cultura e a tradição, seja no vestuário, na alimentação ou na língua. Tudo muito bonito”, destacou.


 


Aldeia dos Xacriabás


 


A primeira tribo a receber o mutirão do Recivil foi a Xacriabá, localizada na cidade de São João das Missões. A aldeia Xacriabá foi palco dos mutirões realizados pelo Recivil por três vezes. O primeiro mutirão realizado na aldeia aconteceu em 2007. Em todos os eventos os moradores da aldeia receberam os integrantes do Recivil de braços abertos.


 



Pela terceira vez Evelin Aoki participa dos mutirões realizados pelo Recivil 


 


Quem participou do evento in loco, foi a Oficiala de São João das Missões, Evelin Eide Aoki Cogo. “Este foi o terceiro mutirão que realizamos com os Xacriabás. São 29 aldeias distribuídas aqui. O resultado das ações anteriores e de mais esta foi muito satisfatório, grande parte da população indígena está documentada. No entanto, aquelas aldeias mais distantes e com o acesso mais difícil, ainda necessitam de mais etapas como esta”, explicou.


 


Aldeia Pankararu


 


A segunda parada do projeto foi na aldeia dos Pankararu, localizada na cidade de Coronel Murta. Os índios Pankararu vivem na zona do sertão do São Francisco.


 


A população atual dos Pankararu é de aproximadamente 4 mil pessoas, muitas delas sem nenhum tipo de documento. No entanto a aldeia apresenta traços de crescimento com ajuntamento considerável e desordenado de moradias, o que sugere, nesta comunidade rural, o início de um processo de urbanização onde aparecem, como pontos de referência, a igreja do santo padroeiro, o cemitério e o Posto da Funai.


 



Oficial de Coronel Murta, Robson Rocha Botelho (esq.) ao lado da equipe do Recivil


 


O Oficial de Coronel Murta, Robson Rocha Botelho acompanhou a equipe dos projetos sociais. “Ë uma oportunidade, leva cidadania para os povos tradicionais. Gostei de ter participado”, disse.


 


Povo Maxakali


 


Em seguida a equipe seguiu para as aldeias Água Boa, Pradinho e Cachoeirinha. Todas fazem parte da tribo dos Maxakali e estão localizadas nos municípios de Santa Helena de Minas e Bertópolis.


 


A tribo Maxakali é a única em Minas Gerais que conserva a tradição intacta. Língua, vestimentas e cultura dos Maxakali são preservadas até os dias de hoje. Um exemplo disso, é que a população não fala português e se comunicou com a equipe através de intérpretes.


 


Denise Parreira trabalha no Recivil com programas sociais há três anos e apesar de toda a experiência se emocionou com o projeto realizado nas tribos. “Foi uma experiência e tanto, pois tivemos ali um aprendizado muito rico sobre os índios Maxacali. Sendo eles a única tribo dentro do Estado de Minas Gerais que mantêm a cultura, seus costumes e sua língua. Não falam português, enfim foi mágico estar com eles e saber que ainda tem tribos assim dentro do nosso Estado”, afirmou Denise.


 


A idade média da população Maxakali atualmente é de 18 anos e a alta taxa de mortalidade infantil chama a atenção.


 


As Oficialas de Santa Helena de Minas, Maria Vanúsia Carijó de Sousa, e de Topázio, Sebastiana Trega Rihs, participaram do evento em parceria com o Sindicato. “No começo tive um certo receio e até medo de entrar na tribo, depois fiz meu trabalho com muita satisfação e gostei muito. Foi um trabalho bom e válido. Documentados esses índios poderão agora dar continuidade à vida deles na sociedade civil”, comentou Sebastiana.


 



Oficiala de Santa Helena de Minas, Maria Vanúsia Carijó de Sousa, participou dos mutirões


 


A funcionária do Recivil, Cláudia Oliveira, que participou ativamente dos mutirões na aldeia comentou sobre a pureza desta tribo em especial. “Posso dizer que os Maxakali são puros, eles não reclamam de nada. Ficaram muito tempo na fila, debaixo de sol e ninguém reclamou. Na cultura deles não existe prioridade, grávidas, mães com crianças de colo ou idosos enfrentam a fila da mesma forma e saem agradecidos. O que nos ajudou muito lá foi a presença ativa da Funai, quase todos os índios Maxakali possuem a documentação da Funai, o que facilitou a procura dos dados para o registro”, comentou Cláudia após o mutirão.


 


Ao todo foram realizados 356 atos, só na aldeia Pradinho foram registrados 145 índios.


 


Tribo Pataxó


 


A última etapa do projeto aconteceu na tribo Pataxó, mais especificamente nas aldeias Guarani, Retirinho e Inbiruçu, localizadas no município de Carmésia. A tribo Pataxó é uma das mais tradicionais etnias indígenas do País, apesar de falarem o português, muitas aldeias conservam as raízes da língua indígena ensinando-a aos mais novos.


 


Nesta etapa do projeto foram realizados aproximadamente 30 atos de registro civil. A equipe visitou as aldeias com a ajuda da Oficiala de Carmésia, Maria Aparecida Duarte. “Foi ótimo este projeto. Através dele tive a oportunidade de ir até os índios e de propiciar a eles a documentação civil básica. Fomos muito bem aceitos pela tribo. Ganhamos até um almoço típico na casa de um deles. Pelo que pude perceber, alcançamos boa parte da aldeia. Valeu a pena ter participado”, comentou.


 



Oficiala Maria Aparecida Duarte atende índio durante o projeto


 


O assessor da prefeitura de Carmésia para assuntos culturais, Walmores Conceição da Silva, é professor de português na tribo Pataxó e também acompanhou a equipe do Recivil no projeto. “Eu achei a iniciativa muito interessante, uma vez que trouxe aos índios que vivem praticamente ilhados um documento aceito em todo o território nacional”, comentou Walmores.